Pensei muito e hesitei por anos falar mais abertamente sobre esse assunto. Costumo compartilha-lo com pessoas muito próximas ou meus clientes e mesmo assim alguns — pois ainda existe um grande estigma sobre o tema.
Quando falamos de doenças mentais, logo vem a nossa mente aquele sujeito desequilibrado (a) e incapaz de levar seu cotidiano de forma ordenada, ou seja, sem depender de alguém. Em nosso inconsciente pairam exemplos de instituições, verdadeiros filmes de terror onde seres descabidos da realidade enfrentam sua existência. Eu mesma pensava assim, e o processo de aceitar que havia algo errado comigo foi uma jornada que culminou com um acontecimento singelo e interessante nos últimos dias.
Um último lembrete que veio para coroar um processo de interiorização e autoconhecimento que começou ainda lá na minha adolescência, mas que atingiu seu auge mesmo nos últimos 10 anos.
Pois bem. Certo dia, durante um atendimento, uma cliente me disse que não conseguia enxergar nada de bom no que fazia. Ela, sendo mestrada, inteligentíssima, professora, bonita e bondosa (assim eu a vejo) não conseguia notar o quanto era incrível. Portanto, ela trabalhava por horas a fio tentando se manter muito ocupada e estudando cada vez mais, de forma a tentar sanar a “deficiência” que na realidade só existia na mente dela. E por mais que eu tentasse em minha profunda vontade de ajudá-la a ter outro ponto de vista sobre si mesma, o que aconteceu foi que eu mesma acabei entrando numa catarse pessoal ao perceber que eu também fazia isso comigo.
Ao negar o meu passado, ao ter medo de confiar na vida sobre o problema que vivi na pele, eu mesma não conseguia enxergar em tudo que havia acontecido a minha própria força e o quanto havia sido persistente. Persistência. Palavra essa que considerava completamente desconhecida de mim, uma vez que pensava viver mudando de rumos por aí. Não, eu persisti. Sou persistente até hoje, na minha cura e melhora como ser humano. Que descoberta!
Não pude conter as lágrimas durante esse atendimento, pois através da tentativa de ajudar outra pessoa encontrei a última peça do meu quebra cabeça pessoal. E isso sim, permite uma troca verdadeira, empatia e abertura não apenas mental, mas energética no processo de auxiliar alguém. Mostrar quem somos com todas as nossas fases, descobertas, dificuldades, erros e acertos faz parte daquilo que conhecemos como a verdadeira doação. O verdadeiro compartilhar.
Há cerca de uns 6 anos atrás eu havia chegado no auge da minha doença. Muitas eram as vezes em que ia trabalhar chorando, despedaçada, dolorida, insone e sozinha, com todos ao meu redor não compreendendo como uma mulher com uma vida aparentemente ótima nunca estava sorrindo, nunca era satisfeita com nada. Por anos me culpei sobre isso, do porquê nunca conseguir ficar bem. Me sentia profundamente ingrata e magoada comigo mesma, o que só piorava meu estado mental, o sentimento de culpa e de desamor por mim e por todo o resto. Eu me sentia um peso, machucando a mim e a todos que estavam ao meu redor.
Fiquei admirada de notar que, naquela pior fase, tomando cerca de uns 6 comprimidos por dia para estabilizar o humor, conseguir dormir, aliviar a ansiedade e pesando uns 45 quilos, ainda assim eu era capaz de gerenciar um departamento de marketing sozinha em uma empresa. Conseguia dar conta de uma rotina insuportável fazendo o que não queria, estudando e ainda ajudando amigos. Conseguia me manter forte, de pé, bonita e arrumada mesmo convivendo com pessoas que — hoje percebo — eram muito mais doentes do que eu. Muitas ainda vivendo em seus estados sonâmbulos até hoje, sem se cuidar mental e espiritualmente, algumas até mesmo já com os problemas da alma culminando em seus corpos através de doenças fatais. Notem que uma doença mental de nenhuma maneira difere de um problema físico. O processo de dor, deterioração e recuperação são os mesmos.
Quantas não foram as crises de pânico… as paranoias, o medo paralisante, a dor de simplesmente acordar todos os dias e ainda estar viva. Uma parte de mim não queria viver, mas ainda assim vivia. Insistia e persistia, acreditava que algum dia ficaria bem.
Assim como esta minha linda amiga e cliente não consegue perceber o quão incrível ela é hoje, eu também ainda não tinha me dado conta do quanto eu havia sido incrível naquela época. O quanto tinha sido fantástica por persistir, continuar e suportar. Por dar conta de viver e pagar as contas, mesmo com uma mente destroçada, em frangalhos. Caraca! e eu ainda conseguia me arrumar!
Desde que mergulhei de cabeça em minha nova fase, na yoga e tudo mais, me arrumar por exemplo, me maquiar, coisa que fazia muito naquela época, havia tomado um certo gosto rançoso. Pegar num pincel me amarga na boca, e tem um paladar de Tatiane tentando esconder as olheiras das noites em claro e dos momentos de pranto. A maquiagem e as fotos eram uma espécie de terapia, uma forma de não perder completamente o contato com o mundo e comigo, de me encontrar e analisar quem estava ali ainda. As responsabilidades e exigências me forçavam e ajudavam a continuar. O visual forte, as tatuagens, os cabelos coloridos ajudavam a despertar uma guerreira dentro de mim. Alguém que estava lutando pela vida, que queria sim viver. Era como vestir uma armadura e espantar qualquer ser ou coisa que tentasse me ferir mais.
Naquele momento, olhar para o passado me trouxe um profundo sentimento de perdão e compaixão — comigo, e com todos aqueles que estavam lá. Falar com ela me fez perceber que não tenho que ter vergonha do que aconteceu comigo ou de quem eu era, do que eu sentia ou fazia naquela época e sim muito orgulho. Todas aquelas situações foram necessárias, e todas aquelas pessoas foram imprescindíveis para que eu estivesse aqui neste ponto hoje. Com todos os defeitos, amor e dor que me causaram. Foram meus mestres na senda do autoconhecimento.
As últimas mágoas então sanaram. De repente ficou muito clara a beleza de todo aquele caminho, do quanto tudo aquilo foi importante para que eu estivesse aqui agora, num momento de troca com esta cliente. E com outros que vieram e virão. Me olhei em algumas fotos depois e me achei muito, muito bonita… forte, admirável e incrível como sempre quis ser. Forte, admirável e incrível como minha cliente! E sabe, eu já era assim! Sempre fui!!
Alguns dias antes dessa consulta eu também havia terminado de ler um livro muito bom sobre uma outra moça que obteve uma catarse parecida, muito mais forte aliás por conta dos fatores envolvidos (Anita Moorjani — Morri para Renascer), causada por sua doença e uma experiência de quase morte. Porém ler e sentir é bem diferente… durante esta leitura muitos véus caíram, mas somente após esta consulta é que a *minha* ficha realmente caiu.
Então, a todos que tiveram a paciência de ler este texto enorme, peço que olhem com atenção a tudo que estavam fazendo na pior fase de suas vidas. De tudo que deram conta de resolver, ou mesmo só de aguardar, mesmo sem a menor condição física ou mental para isso. Não se assuste se perceber o tamanho de sua força, de tudo que superou e ainda supera para estar aqui neste momento hoje, lendo isso. E não se assuste também se em algum momento se pegar usando sua própria vida como exemplo para ajudar outras pessoas — amigos, parentes, um desconhecido.
Peço do fundo do meu coração que apreciem suas próprias jornadas. Que *se*olhem com amor, pois essa é a única maneira de não julgar um semelhante, de desenvolver verdadeira empatia e compartilhar de verdade, sem culpa, sem medo do que os outros podem pensar. Abram seus corações para o compartilhar. Todos nós temos problemas, mas se realmente nos permitimos esta troca, sem nenhuma máscara, tudo ficará mais leve.
E agora compartilho com vocês algumas fotos daquela fase em questão… o período de 2005 a 2013, onde os problemas de relacionamento com minha família, a doença do meu pai, sua perda e a de outros entes queridos culminaram com a percepção de que algo não estava bem comigo. O período em que quase perdi também meu marido em um acidente de carro. O período em que vivenciei o processo de me descobrir doente e me tratar…
Por que isso? Para lembrar de como fui forte, criativa e digna apesar de tudo… para não ter mais vergonha ou receio de quem fui e do que sentia…para lembra-los e a mim mesma de que depressão e doenças mentais não tem cara… para lembrar a todos nós de termos empatia, de saber que poderia ser conosco, com alguém próximo… para nos lembrar do quanto somos fortes apesar de toda a dor. Nós somos incríveis! (fotos desse post clique aqui)
Ainda quero fazer um post contando mais detalhes dessa jornada, mas acho que vou acabar escrevendo um livro… hahaha, toda a vez que começo fica enorme e eu acho que ninguém vai ler. Mas fico aberta a quaisquer perguntas que queiram fazer, tanto sobre o processo de descoberta e cura pelo qual passei, quanto sobre minha vida. Para quem não sabe, fiz faculdade de moda e jornalismo e larguei ambas antes de termina-las. Trabalhei nas áreas de moda, marketing, comunicação e fui fotógrafa por um breve período (sem contar as outras atividades… olha! Fiz muita coisa! rsrs).
Deixei tudo de lado para seguir meu coração e porque definitivamente, não sei viver de outra forma. Sempre soube que o metafísico e o espiritual eram meus verdadeiros caminhos, mas não sabia por onde começar e nem se podia começar… tamanhos também são os estigmas dessas áreas.
Atualmente não tomo mais medicação, mas ainda me considero na jornada. Apesar de me sentir extremamente feliz, grata e realizada, acredito que ela não acabará enquanto eu estiver por aqui. Ajudar pessoas em situações similares a minha acabou se tornando minha meta de vida e utilizo como ferramenta principal exatamente o caminho que trilhei.
Por último, gostaria de verdade de agradecer a todos que estiveram comigo durante o processo, de uma maneira ou de outra. Ao meu amado companheiro de jornada e eterno namorado Wagner, porque ama-lo e querer vê-lo bem com toda certeza foi o grande combustível da minha cura. E a todos os meus amigos, familiares, pessoas que conheci e até mesmo as que me prejudicaram de alguma forma… sabe não poderia ter sido diferente, e a razão pelo qual disso tudo é o agora.
E quero também dedicar este post às memórias do meu pai Carmo, que foi e ainda é minha grande referência e do meu lindo gatinho Tsumê, que esteve comigo e me consolou com seu amor e ronronados macios durante os 13 anos dessa aventura. Faz 1 ano que ele se foi. 😿
Que coisa não? vocês vão olhar minhas fotos acima e se perguntar como essa moça rebelde se tornou zen… coisas do autoconhecimento… coisas do universo… ❤
GRATIDÃO!! AMO VOCÊS!!
Tatiane
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